domingo, 20 de setembro de 2015

Primeira vez




A primeira vez que te vi, você estava com o cadarço desamarrado sentado sozinho no banco da praça. Lembro-me que tropecei em uma pedra logo que você completou a paisagem que os meus olhos estavam a admirar. A senhora que alimentava os pássaros perguntou se eu estava bem, respondi que sim, e continuei a caminhar sem direção. Quando meus olhos se voltaram novamente para você pude perceber um sorriso tímido moldando seu rosto. Retribui com uma leve arrumada na franja (típico de uma garota!). Fui para casa naquela manhã de outono com pensamentos longínquos, contemplando o tempinho ameno e me imaginando como protagonista de um filme bem romântico. Logo que a noite chegou e a lua brilhou naquele céu estrelado, tomei uma dose de realidade e tive a percepção de que nunca mais te veria novamente.  Eu, a gata borralheira de óculos armação anos 40 e cabelo estilo nem te ligo sonhando com um príncipe encantado. Acho que a vida sempre gostou de brincar comigo.

Na manhã seguinte resolvi ir até a livraria do shopping, queria encontrar em meio a tantas histórias uma que me fizesse esquecer aquele momento. Quando finalmente encontrei um livro que julguei ser bom apenas pela capa, uma mão que me transmitiu certo conforto tocou a minha, como num ato natural me virei na direção na qual você estava. Você, o carinha pelo qual eu havia perdido uma noite de sono. De repente me sumiram as palavras, admito que o meu coração bateu mais forte. Minhas pernas? Elas já não faziam parte de mim, tremiam mais que vara verde. Trocamos alguns olhares em meio ao silêncio. Era como se o tempo estivesse parado só para nós. Não sei o porquê, mas queria quebrar aquele clima constrangedor, por isso avisei que o cadarço do seu all star vermelho estava desamarrado. Você sorriu, e esse gesto me fez bem. Confiei em mim. Confiei em você.


por Ranna Botelho

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